terça-feira, 14 de junho de 2011

França: começa nesta semana identificação de vítimas do AF 447

Vítimas foram homenageadas em um memorial no Parque Penhasco Dois Irmãos, no Rio de Janeiro
Foto: Marcos Pinto/Air France/Divulgação
O processo de identificação dos 104 restos mortais das vítimas do voo AF 447 da Air France, que caiu no Atlântico em 2009, deverá começar nesta sexta-feira ou sábado e poderá levar meses, disse à BBC Brasil o coronel François Daoust, diretor do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar (IRCGN, na sigla em francês). O instituto, especializado na identificação de vítimas de catástrofes, comandará esses trabalhos, que estão sob a autoridade da Justiça francesa.
AF 447: dois anos de uma dor sem fim
A previsão é de que o navio Ile de Sein, utilizado no resgate dos corpos e de peças do avião Airbus, chegue à França na quinta-feira, no porto de Bayonne, no sudoeste do país. Em seguida, os corpos serão transferidos ao Instituto Médico Legal (IML) de Paris, onde uma equipe de legistas e dentistas realizará autópsias e os primeiros exames para detectar eventuais cirurgias, implantes, como marcapasso cardíaco ou pinos, além de uma análise detalhada da dentição.
No total, 154 corpos dos 228 que estavam a bordo do avião que fazia a rota Rio-Paris foram resgatados. Os primeiros 50, sendo 20 deles de brasileiros, foram retirados do mar logo após a catástrofe, em 31 de maio de 2009. Mas o coronel Daoust alerta que os 104 "despojos" resgatados entre maio e o início deste mês podem não representar 104 vítimas. Alguns dos restos mortais podem ser de um mesmo passageiro.
Foi, aliás, o que ocorreu no processo de identificação em 2009. O número de corpos resgatados na época, inicialmente de 51, foi revisado para 50 após a conclusão de que um dos restos mortais pertencia a uma das vítimas já identificadas. O instituto francês já dispõe das informações necessárias à identificação e do DNA dos familiares das vítimas europeias e de quase todas as outras nacionalidades, com exceção das brasileiras, disse Daoust. "Aguardamos os dados do Brasil. Isso será resolvido em breve. Os dois juízes franceses estão em contato com a Justiça brasileira para a transferência das informações e do DNA à França", afirmou o coronel.
O processo de identificação dos corpos será realizado de acordo com um protocolo científico e jurídico bastante rigoroso, afirmou o diretor do IRCGN. Os corpos são provas no processo em trâmite na Justiça francesa, que indiciou a Airbus e a Air France por homicídio culposo. Daoust afirma que o processo de identificação deverá levar "semanas ou até mesmo meses".
O acidente do AF 447
O voo AF 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o voo fez o último contato via rádio. A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato e o avião desapareceu em meio ao oceano.
Os primeiros fragmentos dos destroços foram encontrados cerca de uma semana depois pelas equipes de busca do País. Naquela ocasião, foram resgatados apenas 50 corpos, sendo 20 deles de brasileiros. As caixas-pretas da aeronave só foram achadas em maio de 2011, em uma nova fase de buscas coordenada pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA) da França, que localizou a 3,9 mil m no fundo do mar a maior parte da fuselagem do Airbus e corpos de passageiros em quantidade não informada.
Após o acidente, dados preliminares das investigações indicaram um congelamento das sondas Pitot, responsáveis pela medição da velocidade da aeronave, como principal hipótese para a causa do acidente. No final de maio de 2011, um relatório do BEA confirmou que os pilotos tiveram de lidar com indicações de velocidades incoerentes no painel da aeronave. Especialistas acreditam que a pane pode ter sido mal interpretada pelo sistema do Airbus e pela tripulação. O avião despencou a uma velocidade de 200 km/h, em uma queda que durou três minutos e meio. Em julho de 2009, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores - até então feitos pela francesa Thales - por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar

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