domingo, 10 de abril de 2011

Atentado terrorista no Brasil... é isso mesmo e tudo terminou em Goiânia

Intenção do sequestrador era jogar o 737 contra o Palácio do Planalto


Em 29 de setembro de 1988, um Boeing 737-300 decolou de Belo Horizonte. Era o vôo VP-375 da VASP com destino ao Rio de Janeiro. Pouco depois da decolagem, o tratorista desempregado Raimundo Nonato começou a disparar contra a porta da cabine dos pilotos com um revólver calibre 32. Nonato culpava o presidente José Sarney pela penúria em que estavam ele próprio e o Brasil e decidira atirar-se com um jato repleto de passageiros sobre o Palácio do Planalto. Os tiros feriram um tripulante e um passageiro, e o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva rendeu-se ao seqüestrador. Uma vez na cabine, Nonato mandou que se tomasse o rumo de Brasília. O co-piloto tentou pegar o rádio de comunicação, tomou um tiro na cabeça e morreu instantaneamente.
Por mais de três horas, o comandante Murilo negociou com o seqüestrador, voando sobre Brasília, Goiânia e Anápolis. Diante da intransigência de Nonato e da possibilidade de ficar sem combustível, chegou a fazer duas manobras quase suicidas tentando desequilibrar e desarmar o seqüestrador. Na primeira, fez um “tunneau”. Depois, um parafuso, deixando-o cair com o nariz para baixo enquanto girava. Essa manobra foi tão brusca que parte do estabilizador do Boeing se desprendeu e caiu sobre um conjunto de casas em Goiânia. Engenheiros da fábrica afirmam que é o único registro de manobra desse tipo com um Boeing 737. As manobras foram testemunhadas por um Mirage III da FAB que acompanhava o vôo  e contadas pelo comandante Murilo, que, na confusão, acabaria pousando na capital goiana. Em terra, Nonato exigiu um avião menor para fugir, acabou levando três tiros numa cilada e morreu alguns dias depois, internado no Hospital Santa Genoveva, em Goiânia. Como vinha se recuperando bem dos ferimentos, a morte se tornou um mistério que só viria a ser desvendado pelo legista Fortunato Badan Palhares, da Universidade Estadual de Campinas, que autopsiou o corpo e atestou que ele morreu de infecção por anemia falciforme, uma doença congênita.

Comandante da VASP foi homenageado em 2001

Com 13 anos de atraso, o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva, de 53 anos, foi homenageado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas. Murilo, que evitou a tragédia, recebeu o troféu Destaque Aeronauta hoje, no Dia do Aviador.
“Antes tarde do que nunca”, disse o piloto, que na época foi condecorado pelo Ministério da Aeronáutica e pelo governo de Minas. “Acho que essa homenagem demorou para sair. Apesar da medalha da Aeronáutica, a aviação civil deveria ter feito isso há muito tempo”, afirmou Alberto Antunes, integrante da nova diretoria do sindicato, que tomou posse na cerimônia. Antunes foi colega do homenageado na Vasp, e fazia parte da tripulação que entregou o avião aos cuidados de Murilo, em Cuiabá, no dia do seqüestro.
Oito anos depois do seqüestro, quando pilotava aviões DC-10 em vôos internacionais, o comandante se aposentou. “O (Wagner) Canhedo me obrigou. Queria enxugar o quadro de vôo. Fiquei um tempo parado, fui tentar fazer outras coisas fora da aviação”, explica.
No dia 11 de setembro de 2001, mês do seqüestro e do seu aniversário, viu uma história parecida se desenrolar nos EUA, com final trágico. “O que aconteceu em Nova York e Washington foi meio parecido. Os seqüestrador tinha a mesma intenção. Só que lá eram vários.”

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